A apresentadora de TV é apenas uma de suas personagens. Longe das câmeras, ela comanda uma editora de livros refinados e investe numa coleção de telas e esculturas
OBRA NÚMERO UM Eliana começou sua coleção com esta escultura do português Ascânio Maria Martins Monteiro. Ocupa o hall de entrada de sua mansão (Foto: Lucas Lima)
Ela é conhecida no Brasil inteiro apenas pelo primeiro nome: Eliana. Foi assim desde que apareceu pela primeira vez na TV, ainda adolescente, como integrante do grupo A Patotinha. E é assim que ela se apresenta em seu programa nas tardes de domingo no SBT, onde consegue picos de audiência de 16 pontos – ou 960 mil televisores ligados. Para quem a conhece apenas por sua personagem na TV, o sobrenome de batismo, Michaelichen, soa tão estranho quanto duas das grandes paixões que ela afirma cultivar longe dos holofotes. Além de se dedicar ao marido, o produtor musical João Marcelo Bôscoli, e ao filho deles, Arthur, de 1 ano, Eliana publica livros e coleciona obras de arte.
Em sua casa, uma mansão branca em estilo neoclássico cercada por palmeiras com mais de 4 metros de altura em Alphaville, ela mostrou as telas, as esculturas e os desenhos de que mais gosta. A coleção tem cerca de 50 obras e inclui desde pinturas de artistas contemporâneos, como os paulistanos Amélia Toledo e Paulo Climachauska, até um rascunho da modernista Tarsila do Amaral. O xodó é a escultura espiralada do português Ascânio Maria Martins Monteiro. Com 3 metros de altura, a peça ocupa há sete anos o hall de entrada da mansão, um cômodo com pé-direito duplo encimado por uma claraboia. Feita por encomenda, a obra é tida como a pedra fundamental do acervo. “Só compro trabalhos que me emocionam”, diz Eliana. “Arte não é decoração”.
Eliana ao lado da peça favorita da coleção: “Arte não é decoração” (Foto: Lucas Lima)
Com maquiagem reforçada e forte perfume adocicado, ela concedeu a entrevista esparramada num sofá de uma de suas três espaçosas salas de estar. Chamam a atenção na mesa de centro um livro sobre a banda alemã Kraftwerk e exemplares da comentadíssima revista americana de cultura Visionaire. Eliana informa que o interesse por artes surgiu numa viagem a Paris feita aos 19 anos, ao deparar no Louvre com a escultura do italiano Antoni Canova que retrata o mito de Eros e Psique. “Fiquei muito emocionada e com vontade de viver cercada de obras. Mas precisava ganhar uma grana antes”, diz ela, à época já conhecida como apresentadora de quadros infantis e prestes a estourar com a música chiclete “Os dedinhos”, aquela dos polegares.
“Ela tem um senso estético enorme e muito interesse em comprar”, afirma Flavio Cohn, um dos diretores da Dan Galeria, que lhe vendeu algumas obras. Foi visitando exposições e conversando com figuras como Cohn que ela adquiriu repertório sobre o assunto. Cinco anos atrás, fez um curso de artes na Casa do Saber (de origem humilde, ela estudou psicologia na FMU, mas não se formou). “Quando a conheci, num vernissage meu, fiquei surpresa ao descobrir que ela tinha fotos no celular de várias paredes grafitadas”, diz a artista plástica Nina Pandolfo, cujo trabalho guarda semelhanças com o do marido, o Otávio da dupla Osgemeos. Viraram amigas, dessas que marcam um restaurante japonês “sempre que dá”.
Um dos nove livros da editora que Eliana montou em 2009 para promover produções artísticas nacionais, a Master Books, é sobre a obra de Nina. O lançamento mais recente é dedicado ao filme O palhaço, de Selton Mello. A editora funciona no mesmo prédio no Itaim onde trabalha a equipe do site da apresentadora, voltado para mulheres – cerca de 100 produtos de beleza levam seu nome. Quando vai até lá, a bordo de um Porsche Cayenne preto com motorista, fica menos de uma hora. “A agenda dela é muito corrida”, diz sua secretária particular, que dá expediente por ali e a auxilia mesmo à distância.
OS PREFERIDOS Entre as esculturas e telas do acervo de Eliana, constam obras de Nina Pandolfo (no alto), Amélia Toledo (logo abaixo, à esq.), Paulo Climachauska (à dir.) e Tarsila do Amaral (abaixo, à esq.) (FOTOS: Camila Fontana / ÉPOCA SP)
“Qual é o artista daquela peça de bronze que comprei?”, Eliana pergunta a ela por telefone durante a entrevista. A secretária não sabe. A conversa então envereda para as cifras milionárias que as telas da carioca Beatriz Milhazes alcançaram em leilões. “Queria ter tanto cacife.” Depois ela diz que quer conhecer o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha. Para quem não liga o papo à apresentadora do SBT, ela diz: “Faço, com muito orgulho, um programa popular. Mas meu gosto é diferente”.
Publicado por Época SP em 14/02/2013
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